segunda-feira, 30 de maio de 2011

O ÚLTIMO DOS ZUMBIS

Abdias Nascimento, um desses heróis anônimos que a gente toma conhecimento de sua importância somente quando morrem. Ele foi responsável pela criação do Teatro Experimental do Negro, que atuou no Rio de Janeiro entre 1944 e 1968. Devido a essa iniciativa, a companhia foi a precursora na promoção e inclusão do artista negro no panorama teatral brasileiro. Ator, diretor, dramaturgo e um contumaz militante dos direitos contra a discriminaçõ racial, ele foi preso por um crime de resistência por conta de uma viagem que fez ao Peru em 1940; onde estudou teatro e aplicou a técnica de volta ao Brasil com peças que valorizasse os artistas negros.
Quando chega ao Brasil em 1941, Abdias foi detido na extinta penitenciária do Carandiru, onde funda o Teatro do Setenciado, e organiza um grupo de presos que escrevem e encenam os próprios textos. Com a temática de trabalhar a valorização social do negro por meio da cultura e da arte, a inauguração do Teatro Experimental do Negro (TEN), em 1944, contou com o apoio de artistas e intelectuais brasileiros do Rio de Janeiro. Dentre as várias facetas encabeçadas por Abdias, não podemos deixar de destacar sua atuação em Otelo, de William Shakespeare, com a brilhante atriz Cacilda Becker.
Ele também foi diretor do jornal O Quilombo, entre 1948 e 1951, veículo voltado para divulgação do grupo e de notícias de outras entidades do movimento negro. Devido à perseguição política, em 1968 parte para um exílio que dura treze anos. Com a dissolução do TEN, deixa de atuar e dirigir no teatro, e sua militância ganha outras direções. Fora do Brasil, atua como referencista e professor universitário, publica uma série de livros denunciando a discriminação racial e dedica-se à pintura e pesquisa visualidades relacionadas à cultura religiosa afro-brasileira. Na volta ao país, investe na carreira política, assume cargo de deputado federal e senador da república pelo PDT, sempre reivindicando um lugar para a cultura negra na sociedade.
Sem sombra de dúvida, muitas das conquistas desde a Constituição de 1988, na luta contra a desigualdade racial e na luta pelos direitos do povo negro, se deve a esse brasileiro que foi se encontrar com Zumbi, no auge dos seu 97 anos. No entanto, Abdias deixa sua marca nesse país, tão carente de homens públicos de tamanha grandeza, como exemplo a ser copiado.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

POR ESSA NEM CHICO ESPERAVA

Chegou a vez de Anna de Hollanda, atual Ministra da Cultura, experimentar o lado obscuro do poder quando não se administra bem a visibilidade. Na política quanto maior a visibiliade maior a chance de cometer gafes e escândalos. A ministra vive agora um calvário desde que a imprensa denunciou que ela teria recebido diárias quando estava no Rio de Janeiro, sem compromissos oficiais.


Recentemente, o então ministro do esporte Orlando Silva, também foi alvo do chamado "fogo amigo", mas não perdeu a pasta. A presidente Dilma saiu em defesa de Hollanda e disse que não pretende exonerá-la. Quem também comprou a briga da ministra foi o cantor e compositor Caetano Veloso, que não vê razão para haver nenhuma desestabilização dela no ministério. "Sou totalmente pela permanência de Ana de Hollanda", disse. O cantor ainda afirma que a visibilidade trazida por essas polêmicas que envolvem a ministra é boa. Será mesmo? Eu tenho lá minhas dúvidas.

O que mais me intriga nessa história é perceber como as pessoas ficam vulneráveis quando chegam ao poder. É difícil de acreditar que uma pessoa tão esclarecida como Ana de Ollanda, nesse caso, tenha metido os pés pelas mãos.

Fonte:www.folha.com.br

quinta-feira, 5 de maio de 2011

O GALÃ DE GILBERTO BRAGA

Apesar da tentativa de Gilberto Braga, autor da novela Insensato Coração sugerir o papel de um negro bem-sucedido, interpretado pelo ator Lázaro Ramos, o personagem não cola. E pelo jeito não é somente o personagem do conquistador André Gurgel ganhou a desconfiança do grande público. A trama global das 9 da noite, há meses no ar, ainda não emplacou de acordo com os índices do ibope.

Não há como duvidar que Lázaro Ramos é um excelente ator, mas na pele de André Gurgel ele não convence nem aqui nem na China. Sua interpretação quando não soa artificial cai no estereótipo vulgar e arrogante. Mas como sedutor deixa muito a desejar. Afinal, qual mulher cairia na lábia das cantadas sem noção proferidas por ele na trama? E quando digo isso não se trata da questão étnica do ator e sim da falta de profundidade do texto. Sem contar que o padrão de vida do qual o personagem faz parte é muito alto para a realidade do negro no Brasil.

Como já dizia o pesquisador Joel Zito, os autores de telenovelas no Brasil têm dificuldades de escrever papéis para negros pois desconhecem a condição de ser negro no país o que acaba afetando sua reapresentação. Lamentavelmente, Lázaro como galã sedutor não achou o mesmo caminho quando fez Madame Satã e o inesquecível Foguinho em Cobras & Lagartos. Quem sabe nos próximos trabalhos de Lázaro os autores acertem a mão.