Era mais uma manhã que se iniciava
Era mais um dia de sol ensolarado
Era mais desafios e incertezas
Era mais um ônibus lotado a caminho do trabalho
Era mais um garoto com uma caixa de papelão cheia de balas
Era mais um motorista conivente com a exploração da mão de obra infantil.
E a ladainha de sempre se inicia: "Não estou aqui para roubar, estou aqui vendendo as minhas balinhas para ajudar a minha familia. Tenho bala Halls que vai deixar a sua boca cheirosa, goma de mascar; as vezes você saiu de casa atrasado e não deu tempo de escovar os dentes... essa aqui é ótima... tem também de maracujá às vezes você acordou meio estressado, ela vai te deixar calminho, calminho", diz o menino com lábia de vendedor de cartão de crédito.
"Balinha aí moça, balinha senhora, balinha moço... leva duas por um real".
E o menino percorria a passarela do ônibus de banco em banco recebendo um não. Do fundo do ônibus onde eu observava toda a ação daquele garoto como se tivesse com uma câmera registrando cada movimento de sua perfomance, reações e sentimentos me sobrevinham. Uma certa agonia tomava conta de mim à medida que o menino vinha se aproximando. Seu rosto refletia a frustração dos nãos que recebera. E eu ali, com toda a minha pompa de "cidadão politizado" me vi com um nó na garganta e os olhos emaranhados. Não tinha como não ter pena olhando para o rosto dele. Quando já estava me rendendo com a sua aproximação cada vez mais rápida para o fundo do ônibus, uma senhora compra 2 balinhas, uma para ela e outra para sua filhinha. Ufa! Quase me sucumbi. Mesmo sabendo que a venda desses produtos aqui na cidade é proibida, ainda assim alguns motoristas costumam ignorar a medida. Caso o menor seja pego por um fiscal dentro do ônibus com as suas balinhas, tanto o motorista quanto a empresa em que trabalha, são penalizados. É difícil não se compadecer diante de um rosto sofredor, no entanto, sabemos muito bem que por trás dessas crianças existe sempre um adulto explorando a mão de obra infantil.