É fato que alguns segmentos da imprensa são, ainda que não admitam, de uma forma velada
contrários a todo e qualquer tipo de ação afirmativa que visa reparar um
problema histórico que vem se arrastando há séculos, que é a questão racial no
Brasil. Seus reflexos e conseqüências envolvem debates com vários pontos de
vista e ideologias diferentes. No entanto, é preciso tomar cuidado para que
atitudes muitas vezes radicais desqualifiquem o debate sobre o tema.
É o caso das acusações de racismo contra a obra "Caçadas de Pedrinho" de Monteiro Lobato, que foi objeto de uma audiência de conciliação no mês passado no Supremo Tribunal Federal (STF). Ao invés de polemizar tanto sobre a obra do escritor que foi pensada numa época que representava justamente a realidade de como esse público era visto pela sociedade, como a proibição ou como queiram, a exclusão do Programa Nacional Biblioteca (PNBE) e outros programas do governo, poderia se pensar outras formas de trazer o debate justamente para os dias atuais. Seria uma oportunidade para professores e alunos discutirem se questões levantadas por Lobato há quase 1 século ainda estão entranhadas no cerne da sociedade brasileira.
A capacitação de professores para o ensino das relações étnico-raciais e a implementação da Lei 10.639/96, que prevê a obrigatoriedade do ensino da História e cultura afro-brasileira é de suma importância no que tange ao processo de formação da identidade do povo brasileiro. Não tem como negar que o racismo é uma chaga que insiste em permanecer no imaginário principalmente de alguns setores do poder. E é evidente que o racismo não se combate com medidas desse tipo como a proibição da obra do autor, mas com profissionais bem preparados. Resta-nos o bom senso!