segunda-feira, 26 de dezembro de 2011


A vaidade de todo jornalista é conseguir um furo e ter sua matéria estampada na primeira página do jornal. E jornalista que se preza sabe que essa é uma tarefa árdua e que nem sempre terá uma segunda chance. Porém, extrair leite de pedra são para poucos. Uma simples viagem por exemplo para um lugar, ainda que seja considerado o mais remoto possível, pode render uma grande reportagem.

O difícil é relaxar e ter paciência para que as ideias surjam e assim observar o que ninguém ainda não contou. E esse é um dos grandes desafios que os profissionais enfrentam atualmente, pois devido à pressão e estresse característicos da área nem sempre é possível relaxar para contemplar o inesperado.

Por mais que ninguém admita nós jornalistas adoramos cobrir factual, tragédia então nem se fala, vai ver por isso nos chamam de urubus. Numa viagem para o interior de Minas por exemplo acabei esquecendo a bela paisagem descrita por Drummond em suas obras, mas meus olhos estavam vidrados na estrada; se estava asfaltada, se havia buracos e, se porventura acontecesse um acidente, eu estaria ali de prontidão para registrar tudo com o meu equipamento.

Para minha frustração a estrada estava ótima e tranquila, até mesmo porque em pleno feriado do natal não tinha fluxo algum de veículos rumo ao meu destino.

Pensei na saturação das notícias veiculadas pelos telejornais que mais pareceu merchandising para fazer com que o público consumisse desvairadamente, manchetes e passagens não diferenciaram de um veículo para outro, todos seguiram aquele mesmo padrão/formato enlatado de sempre em se tratando de datas comemorativas.

Pensei...será que o jornalismo está em crise? e qual o seu futuro ainda mais agora que nem é necessário mais diploma para exercê-lo, qualquer professor, médico, advogado, desde que saibam escrever bem podem enveredar para o exercício do jornalismo. Sem dúvida é uma profissão que envolve muitos conflitos e interesses, mas isso é para aqueles desenvolveram um faro bastante apurado, e que mais do que tudo introjetaram a profissão para si como missão.

Por fim, de volta à realidade remeti novamente a Drummond...como Minas tem montanhas, uma infinidade delas. Uma biodiversidade incrível de matas e florestas à beira da estrada e quantos pés de bananeiras que perdi a conta...como foram parar ali e quando dão banana quem se beneficia, sabe lá se algum pesquisador já passou por ali. Um balé incrível de árvores esguias como bailarinas gêmeas davam mais elegância à paisagem, rios, riachos que com certeza têm história, que para serem reveladas, vai precisar desse artesão apaixonado chamado de jornalista.

A ALEGRIA DO BRASILEIRO


Foram dez dias dedicados em conhecer como anda a vida dos moradores de Ouro Preto e Conselheiro Lafaiete. Conheci pessoas que moram em casas confortáveis com uma condição social que reflete o perfil da nova classe média brasileira, mas também pude perceber os contrastes que ainda existem entre os públicos.

Numa mesma rua onde há famílias que vivem dignamente com uma renda mensal acima de R$2000,00, praticamente ao lado me deparei com pessoas em condições precárias. Alguns são aposentados que gastam o pouco que recebem com remédio e o que sobra mal dá para comer. Dona Maria Brígida, uma senhora de 71 anos, quase não me recebeu quando expliquei o motivo pelo qual estava ali. Ela fez muitas críticas ao governo e disse que principalmente a área da saúde é a que mais precisa de atenção. "Onde já se viu esperar mais de três meses para conseguir marcar uma consulta com um médico especialista em joelho, isso é um absurdo", disse a aposentada com muita raiva.

O que mais me chamou a atenção nesses dias foi o fato de que apesar da situação econômica de algumas pessoas não ser das melhores, a maioria está sempre com um sorriso nos lábios e bem-humorados. Uma alegria que não combina com a receptividade pela qual fui recebido por um casal num barraco com goteiras de chuva pingando pelos cômodos da casa sem rebôco e piso de cimento. A cena me comoveu, o moço colocando vasilhas sobre a mesa para não molhar o aparelho da pesquisa e as paredes da cozinha encharcadas só aumentava minha tensão. Em silêncio eu meditava: Meu Deus que coragem essas pessoas viverem aqui, quanta injustiça social há nesse país...

No entanto, a felicidade desse casal se resume devido a chegada de Brenda, a mais nova moradora com apenas dois dias de nascida, cujo o quarto do casal fora o único reformado para recebê-la.