A vaidade de todo jornalista é conseguir um furo e ter sua matéria estampada na primeira página do jornal. E jornalista que se preza sabe que essa é uma tarefa árdua e que nem sempre terá uma segunda chance. Porém, extrair leite de pedra são para poucos. Uma simples viagem por exemplo para um lugar, ainda que seja considerado o mais remoto possível, pode render uma grande reportagem.
O difícil é relaxar e ter paciência para que as ideias surjam e assim observar o que ninguém ainda não contou. E esse é um dos grandes desafios que os profissionais enfrentam atualmente, pois devido à pressão e estresse característicos da área nem sempre é possível relaxar para contemplar o inesperado.
Por mais que ninguém admita nós jornalistas adoramos cobrir factual, tragédia então nem se fala, vai ver por isso nos chamam de urubus. Numa viagem para o interior de Minas por exemplo acabei esquecendo a bela paisagem descrita por Drummond em suas obras, mas meus olhos estavam vidrados na estrada; se estava asfaltada, se havia buracos e, se porventura acontecesse um acidente, eu estaria ali de prontidão para registrar tudo com o meu equipamento.
Para minha frustração a estrada estava ótima e tranquila, até mesmo porque em pleno feriado do natal não tinha fluxo algum de veículos rumo ao meu destino.
Pensei na saturação das notícias veiculadas pelos telejornais que mais pareceu merchandising para fazer com que o público consumisse desvairadamente, manchetes e passagens não diferenciaram de um veículo para outro, todos seguiram aquele mesmo padrão/formato enlatado de sempre em se tratando de datas comemorativas.
Pensei...será que o jornalismo está em crise? e qual o seu futuro ainda mais agora que nem é necessário mais diploma para exercê-lo, qualquer professor, médico, advogado, desde que saibam escrever bem podem enveredar para o exercício do jornalismo. Sem dúvida é uma profissão que envolve muitos conflitos e interesses, mas isso é para aqueles desenvolveram um faro bastante apurado, e que mais do que tudo introjetaram a profissão para si como missão.
Por fim, de volta à realidade remeti novamente a Drummond...como Minas tem montanhas, uma infinidade delas. Uma biodiversidade incrível de matas e florestas à beira da estrada e quantos pés de bananeiras que perdi a conta...como foram parar ali e quando dão banana quem se beneficia, sabe lá se algum pesquisador já passou por ali. Um balé incrível de árvores esguias como bailarinas gêmeas davam mais elegância à paisagem, rios, riachos que com certeza têm história, que para serem reveladas, vai precisar desse artesão apaixonado chamado de jornalista.